Em um passado não tão distante, empresas de contabilidade acumulavam montanhas de papéis. Eram documentos, planilhas, notas fiscais, movimentação de pessoal, balanços, fluxo de caixa e demonstrativos. Mal dava para ver os funcionários que trabalhavam na organização de todo esse material.
Os tempos mudaram. A papelada sumiu das bancadas. Tudo – ou quase tudo – já é eletrônico. E, neste exato momento, os escritórios contábeis passam por mais uma transformação digital. Desta vez mais agressiva. Se já não havia papéis, agora não existem mais mesas, nem mesmo os escritórios. Empresários e contadores não se veem mais. Tudo – ou quase tudo — agora é virtual. As empresas de contabilidade on-line têm mudado a forma de fazer a gestão contábil no Brasil.
A mudança acompanha a transformação digital pela qual passam as empresas dos mais diversos ramos de atividade. É uma tendência de mercado, para atender principalmente às micros e pequenas empresas. Os maiores atrativos dos contadores on-line são o preço baixo e a rapidez nas respostas. Por outro lado, ainda é um desafio atender casos mais complexos e companhias de grande porte. Por isso, o campo a ser explorado pelos cerca de 60 mil escritórios de contabilidade registrados no País, seja tradicional ou digital, é vasto. Segundo dados atuais da Receita Federal, o Brasil possui 10 milhões de Microempreendedores Individuais (MEIs) cadastrados, 5,7 milhões de Microempresas (ME), 800 mil Empresas de Pequeno Porte (EPPs) e 2,5 milhões de companhias de outros formatos. No total, são 10 milhões de empresas no Simples Nacional. Apenas no ano passado foram abertos 3,2 milhões de CNPJs. Exceto os MEIs, a maioria precisa de um contador formal para responder por sua contabilidade aos órgãos do governo.
Dizendo-se o maior escritório de contabilidade do Brasil, ele nasceu com o objetivo de tornar a atividade mais acessível e viabilizar o sucesso do empreendedor brasileiro. No início, trabalhavam apenas os três sócios. Sete anos depois, são 370 colaboradores ativos, 80 deles diretamente ligados à área contábil e 120 profissionais de tecnologia. As sedes estão em Curitiba e São Paulo. São 10 mil clientes espalhados por mais de 50 cidades do País que confiam na solução que, segundo Soares, oferece economia, praticidade e segurança.
O número de colaboradores deixa claro que a mão humana ainda é fundamental na atividade. “Não é tudo feito por robô”, diz Soares.“Fazemos consultoria pessoal, com contadores de verdade, que atendem nossos clientes por chat, mensagens e telefone”. Segundo ele, o diferencial é o acesso a esses profisionais, muito fácil e prático. E as respostas são rápidas. “Em 15 minutos o cliente resolve sua burocracia contábil do mês todo”, garante. Com o tempo que sobra, o empresário pode se focar na gestão e não em burocracia. O modelo de negócio vem dando certo e tem despertado o interesse de investidores.
A tecnologia embutida nos processos alimenta um debate no mercado de contabilidade. Afinal, a transformação digital, com alguns processos automatizados, tem tirado o lugar dos contadores no mercado de trabalho? A resposta aponta para uma nova realidade ao qual toda a cadeia tem se adaptado. Os escritórios digitais contram contadores. Para quem empreende com essas plataformas, a diminuição dos custos para as empresas contribui para a geração de empregos nos mais diversos setores, incluindo aí o contábil.
Em um artigo recente, embora com o já conhecido título “Ponte para o Futuro”, o presidente do Conselho Federal de Contabilidade, Zulmir Breda, destaca que a entidade tem ciência de que as repercussões da atual transformação tecnológica global podem ser ainda mais extensas do que as da Revolução Industrial, que promoveu mudanças nos sistemas de produção no século 18. “Mas, ao contrário das previsões alarmistas, divulgadas apressadamente, dando como certo um futuro distópico de desemprego maciço, a profissão contábil não está em via de extinção.”